Mensagem recebida de Sigmund Freud pela médium alemã, Eva Herrmann
Extraída do livro publicado pela Editora Otto Reichl Verlag, com o título “Do lado de lá”
Relato da médium Eva Herrmann
Em 1973 dirigi uma pergunta a Sigmund (espírito), assumindo
que somente ele a poderia responder com exatidão. O assunto hoje é irrelevante. Mas Freud, que logo se apresentou, parecia ter pouco interesse em falar comigo e, para minha consternação, foi pouco amistoso. Freud, no entanto, me deixou entender, de modo inequívoco, que considerava minha comunicação frívola e desejava, por isto, ser no futuro deixado em paz. Mas, no dia seguinte, ele apareceu novamente e se desculpou, informando que havia se informado a meu respeito e sobre minhas comunicações e mudou de opinião. No decorrer de nossa conversa externou a vontade de transmitir uma confissão. Hesitei, já que estava, junto com os meus auxiliares, no meio de outro trabalho e, mais ainda, por considerar duvidoso se tal confissão iria merecer qualquer credibilidade. Também sabia, por experiência própria, que aflição resultava de ouvir e anotar tais auto-acusações. Mas Freud insistiu e assim recebi a sua “confissão geral”. Apresento-a aqui e espero que possa ser recebido pelos interessados de Freud e em assunto psíquico, com mente aberta.
Eva Herrmann
Confissão de Sigmund Freud através da médium Eva Hermman
“Eu, Sigmund Freud, irei transmitir uma confissão a Eva Herrmann, que por hora não deve ser tornada pública para evitar que pessoas que me estão próximas possam ser envolvidas em um assunto que lhes possa ser desagradável.
Ditei esta confissão geral a Eva Herrmann por esperar obter maior clareza sobre a minha vida e de me livrar das ligações com o passado. Estas ligações são um grande peso para mim, por me lembrarem incessantemente dos erros que cometi, tanto na minha vida particular como na obra de minha vida. Gostaria de clarificar ambos, mas antes queria falar dos erros pessoais, já que são eles que me prendem aqui nos círculos característicos de espíritos ainda não purificados.
Isso me leva bem ao meio da área metafísica, pois, com a frase acima, estabeleço uma série de premissas que, de um lado são inconciliáveis com as opiniões que defendi antigamente e, de outro, as ultrapassam em muito. Menciono isto como introdução, já que pode causar surpresa a muitos dos que estão acostumados a ler os meus livros, ao sentir as palavras e o sentido da minha confissão. No entanto, este novo enfoque é a resultante de estar neste mundo, do qual não tinha conhecimento e que se me apresenta agora diante dos olhos de modo irrefutável. Toda a resistência interna para não aceitá-lo não leva a nada. Ele existe, inexorável para aquele que foi extraditado para cá, e ditoso para aquele que lhe pertence por tendência ou desenvolvimento: aos de tendência religiosa ou aos simplesmente bons.
Como eu não tinha tendências religiosas, nem características que no seu conjunto resultam no homem verdadeiramente bom, me encontro agora num plano que, para usar a voz do povo, pertence às trevas ou “Inferno”. Basicamente este Inferno abriga aqueles que, por suas condições espirituais, são infelizes ou maus. Aos primeiros é, normalmente, permitido se elevar em sua condição através da necessária vontade própria: para os maus isto depende de se sentirem bem aqui, ou não. Esta afirmativa pode soar surpreendente, mas eu tive que me acostumar com a ideia de que a maldade existe por si, e que muitos espíritos se entregavam parcial ou totalmente a ela. Se isto não se coadunar com as suposições hoje aceitas, só se pode lastimar que a maioria dos homens insiste em ignorar esse fato que, infelizmente, pertence às realidades básicas da vida.
O ponto de vista normalmente defendido hoje em dia, que atos maus são resultantes de uma infância em que a pessoa foi ferida – um ponto de vista para o qual eu muito contribuí – demonstrou-me aqui como totalmente equivocado, já que o homem é resultante de muito mais do que uma infância mais ou menos feliz. O homem é a soma final das existências terrenas anteriores, que muitas vezes se situa séculos antes da vida atual. Os acontecimentos da infância somente constituem a retomada da trilha predominante de cada vida. Uma trilha que muitas vezes é básica para diversas vidas seguidas, até que a alma possa se libertar de uma infelicidade que lhe é própria. Mas nem sempre se trata de uma infelicidade. Muitas almas têm uma herança, continuam no ponto em que tiveram que interromper, no passado, o caminho para o aperfeiçoamento de uma ou outra área de conhecimento.
Gênio! O que é um gênio? Uma alma que passou por um número infinitamente grande de encarnações, dirigidas a um único alvo, até que finalmente possam nascer como um Shakespeare, Mozart ou Einstein, e encontrem assim, a sua realização.
Talento tem a alma que está a caminho do gênio, na pressuposição que ele persevere até o fim. Esta perseverança é, no entanto, nada fácil. O “mal” que agora somos forçados a considerar um poder equivalente ao “bem”, manifesta-se de múltiplas maneiras. Por exemplo, como negligência, e negligência é o inimigo de qualquer ascensão. Uma pessoa de talento pode nunca chegar a ser um gênio se a sua alma se tornar submissa ao mal, na sua máscara mais inofensiva – “a indiferença”.
O fato de ter-me apercebido do mal em todos os disfarces, desde que estou aqui, se deve no reconhecimento de que dois centros de poder dividem o domínio do mundo entre si e se combatem por isto: O Bem e o Mal, isto é, o construtivo e o destrutivo, a claridade e a escuridão, o amor e o ódio. Apesar do exposto parecer indescritivelmente simples, trata-se da verdade e nada mais do que ela. Mas ela deixa de ser simples se todas as suas intricadas variantes e ramificações forem observadas. E resulta que a concepção do Universo, na Idade Média (talvez neste único ponto), se aproxima daquilo que somos obrigados a reconhecer como verdade irrefutável.
Já como criança, me tornei presa do “mal” na forma aqui descrita. Odiava minha mãe e meus irmãos, não como acreditei mais tarde, porque tinha ciúmes de meu pai, mas porque um posicionamento provocado por uma existência anterior me levou a tal. O que aqui chamo de “posicionamento” corresponde, de maneira aproximada, ao que os hindus chamam “carma”, isto é, a transferência de fatos ligados ao destino para uma nova vida. Eu tinha uma inteligência clara, com intuição, e me foi dada a condição de poder influenciar os homens de minha época de tal modo, que posso com razão dizer que ajudei, de maneira substancial, a estabelecer as bases do panorama espiritual daquela época. Faltou pouco e eu teria me tornado o criador de uma psicologia válida, mas faltou a condição decisiva: eu não tinha a autorização de o fazer. Somente me foi permitido dar ao mundo um quadro, na sua maior parte correto, do inconsciente, mas não de esclarecer a verdadeira natureza da alma. O meu carma me freou em forma de restrições impostas e permitiu que eu apresentasse ao mundo uma “pseudo-verdade”, já que também o mundo (ou a humanidade da Terra) está submetido a uma espécie de carma pelo qual ele só pode chegar à compreensão correta no momento aprazado.
Eu odiava minha mãe e meus irmãos, apesar de nunca tê-lo admitido durante minha vida. Eles me eram estranhos, cada um a seu modo. Eu amava Martha, minha mulher, e ainda a amo: mas ela se encontra num plano muito mais elevado que o meu e só posso chegar a ela de modo indireto. Como resultado, me esforço ainda mais para sair de minha condição atual. Desde que tive a experiência magnífica de me comunicar com ela através de entidades caridosas que transmitiram a comunicação falada, de estágio em estágio, se intensificou o meu anseio de estar ao seu lado.
Para voltar à minha infância, eu odiava todas as pessoas ao meu redor. Nunca o mencionei, tanto pela fealdade de meus sentimentos, como pelo fato de não ter explicação para isto. Eu odiava minha mãe apesar de uma forte ligação incestuosa do meu lado, mas ambos os sentimentos corriam em paralelo, sem se perturbarem mutuamente. Mais tarde expliquei este sentimento pela suposta presença de um complexo de Édipo, mas hoje vejo este quadro numa luz completamente diversa. Eu odiava minha mãe porque, numa vida anterior, ela me fez uma grande injustiça e eu carregava esse fato comigo, nas profundezas do meu ser.
Mas, que eu além disto a desejava, está ligado ao fato que a teoria do complexo de Édipo está correta quando há uma certa atração entre os sexos. Não se deve, no entanto, concluir que todo o resto da tragédia de Sophocles pode ou deve ser aceita como um todo. A teoria acima, que na minha obra tem um papel preponderante, rejeito hoje como uma construção falha. O fato de que milhões de pessoas a aceitaram e ainda hoje aceitam, não muda nada na verdade de que forças destrutivas idealizem este logro que levou mais de uma geração a fazer papel de tola.
Os meus colegas, aos quais este diagnóstico parecia a resposta correta a dado problema, tanto quanto eu, foram vítimas de uma auto-sugestão que se apodera daquele que não conhece uma solução melhor.
Eu não odiava só a minha mãe, odiava todos os meus irmãos. Para isto só tenho uma explicação: o ódio a minha mãe, que era injustificável, tingia a minha vida emotiva de tal maneira que o ódio transbordou para os meus irmãos que, em si, não eram nada odiáveis. Eles reagiam de modo normal, de maneira que me encontrava num mundo cheio de ódio e antipatia. Toda esta situação correspondia na íntegra ao meu carma, ou seja, a minha vida preestabelecida que representava o resultado de encarnações anteriores. Estas encarnações da alma humana se repetem em períodos de duração variável, as mais avançadas, em intervalos enormemente longos.
Minha última encarnação aconteceu na guerra dos 30 anos (1618-1648) e estou começando a me lembrar daquela vida ruim. Eu tinha uma posição elevada, mas que só mal e mal correspondia às minhas aptidões, e me desincumbia de minha tarefa com profundo desdém aos que me cercavam e aos quais me sentia muito superior. Este posicionamento estava ligado com um desprezo, sem igual, pelas necessidades humanas. Voltei assim para este mundo com o desejo de ajudar a outros, mas, pelo meu carma, só o consegui em parte, pois, apesar dos meus conhecimentos sobre o mecanismo do inconsciente formarem uma base para uma psicologia válida, o restante do meu ensino não é somente errôneo, e eu o confirmo com o coração pesado, mas é, de certa maneira, um absurdo.
O que hoje, no entanto, sinto mais profundamente é não ter utilizado, desde que isso me tivesse sido permitido, meu tempo e trabalho para descobrir as verdadeiras bases daquilo que faz o homem ser como é, ou seja, procurar os acontecimentos formadores do destino na reencarnação e no seu passado, que se perde na escuridão, em vez de procurá-los na sua infância. A este fundo determinativo pertence, além disto, a influenciação por “forças do além”, cuja existência eu ignorava. Somente desde a minha passagem entendo a enorme importância que estas entidades, boas ou más, têm para a vida individual como para a coletiva. Este fato é de importância tão preponderante que quase não encontro as palavras para apresentá-la na sua completa significância.
Somente desde que eu, diariamente, sou testemunho daquela cena que mostra, sem exceção, que a humanidade é ferramenta das entidades que lhe são invisíveis, uma divergência tão fundamental daquilo que a maioria considera como transcorrer normal dos fatos, começo a compreender que todos os conceitos atuais sobre o funcionamento do ser humano não chegam nem perto da realidade. Esta influenciação não é arbitrária, mas baseada em merecimento, correspondendo, por assim dizer, a um parentesco facultativo, o que me levou à percepção abaladora de que o Universo é dirigido por “algo” como uma justiça sobre-humana.
Esta justiça sobre-humana se me apresenta como algo verdadeiramente divino, se bem que não como uma divindade personificada. Esta justiça só é, porém, um dos aspectos daquela divindade que pode ser percebida como uma luz radiante penetrando as profundezas mais longínquas do Universo e abençoando aqueles que dela podem participar. Isto, no entanto, não é dado a qualquer um, já que uma grande parcela da humanidade se encontra em condições espirituais tais que, como se fossem encobertos por uma crosta dura de ignorância e maldade, a luz divina não os pode penetrar. Quanto a isto, quero mencionar uma grandeza, ou dimensão que, para lá da altura, largura e profundidade, indica o grau de densidade, seja de uma alma ou de uma esfera que lhe corresponda, um grau de densidade que não é tangível, mas é uma indicação de grau de espiritualização.
Se uma alma se encontra na condição de cegueira espiritual-religiosa, a opacidade de tal alma impede que seja transpassada por uma claridade que é a expressão simultânea de amor, de cognição e justiça absoluta. Neste contexto, entendo hoje sobre religiosidade algo bem diferente de uma observação cega de um ritual, ou de um fanatismo religioso. A impermeabilidade acima mencionada também é sentida como distância da fonte de luz e se associa a um mal estar proporcional a esta distância. Em certos casos isto é negado quando, por exemplo, há um completo afastamento do divino, mas é compreensível que se fale de um “em cima”, próximo da luz e um “em baixo”, que lhe é afastado. Como além disto inúmeras almas pertencem ao mesmo grau de densidade, formando assim um coletivo, é compreensível que as diversas esferas são, baseadas em tradições velhíssimas, chamadas com designações simbólicas de Céu e Inferno, e dentro destas, por diferenciações expressas por números. É natural que, relacionado a estas expressões, não se deve pensar em localizações e, principalmente, não em algo que de longe tenha semelhança com as imagens tradicionais. Para finalizar, gostaria de mencionar que a tarefa à qual pertencemos não é algo externo a nós mas, sim, o resultado de uma condição interna, projetada para fora.
A minha alma ainda está no estado de relativa densidade, por estar carregada com a culpa ainda a ser compensada. No mundo de cá não podem existir ilusões sobre a condição da própria alma, já que lhes está contraposto um posicionamento objetivo e inexorável. Este posicionamento é resultado do fato de que a alma somente pode existir numa esfera que lhe é adequada, e esta esfera é totalmente evidente.
A culpa de que falo, só dificilmente pode ser traduzida em palavras, pois se trata de uma continuidade que se iniciou na minha infância e, por assim dizer, acompanhou o meu crescimento. Como mencionei acima, eu odiava a minha mãe e meus irmãos. Meu pai foi por mim colocado à distância. Não o odiava, apesar disto se ter encaixado perfeitamente na minha teoria; ele só me era antipático, como a maioria dos meus parentes. Hoje me ficou claro, mas durante minha vida na Terra este relacionamento, difícil com os que me cercavam, produziu um profundo ressentimento, que aumentou no transcorrer do tempo. Considerava-me uma pessoa original, excêntrica e… um gênio. No entanto, não apreciava quando estas designações eram usadas com relação a mim, pois me deixavam constrangido porque não tinha eu condições de responder a um cumprimento desse tipo de modo urbano. Considerava-me um gênio não compreendido e, apesar de acreditar nas teorias de minha autoria, me era um prazer chocar outros com elas. Queria me desforrar do mundo.
Era tímido e retraído, para não dizer amargurado. Mesmo estando animado por poder ajudar a pacientes individuais (e nada me era demais para isto) tinha uma profunda satisfação de mostrar ao mundo um espelho em que todos podiam perceber um quadro distorcido de si. Naturalmente isto era feito com o máximo de objetividade e reserva, como era adequado para um cientista. Pela minha visão atual não existe nenhuma dúvida que esta atitude era acompanhada de um verdadeiro prazer sádico que eu guardava cuidadosamente na profundeza da minha alma. Isto era especialmente fácil, considerando que apresentei uma contribuição substancial com relação ao mecanismo do inconsciente, o que considero totalmente correto e sempre o considerei.
Mas quase todas as outras colaborações e enfeitamentos me foram, como hoje sei, transmitidas por “forças” que tinham uma alegria maldosa de terem encontrado um homem sério que as ouvia. As colaborações acima mostravam o homem de um enfoque com uma tônica sexual unilateral, o que desviou a atenção de uma geração inteira para conceitos que não correspondiam à realidade, ou que não tinham a abrangência universal, como eu o proclamei. Visto subjetivamente, do ponto de vista de alguém que perdeu as escamas diante dos olhos, houve um engano do meu lado, favorecido, de certo modo, pela disposição interna de querer chocar o mundo. Objetivamente, fui vítimas de um carma que se referia a mim e ao mundo em geral permitindo assim às “forças das trevas” apresentarem, temporariamente, o homem como completamente diferente do que é na realidade.
Não sei julgar em quanto tempo poderei, com a ajuda dos outros, reabilitar o homem como uma criação de Deus, cuja sexualidade, com exceção de casos patológicos, perfaz uma parte importante de sua vida terrena. A esta criatura de Deus deveria ser permitido, outra vez, chegar a conhecimentos que hoje, ou estão esquecidos, ou continuam a existir em uma forma em que a fez ficar inaceitável para qualquer homem razoavelmente exigente. Mas é de se esperar que em breve cairá alguma luz nesta escuridão desalmada, na qual pululam frases que só soam modernas. O homem será reposicionado como o ser que deve escolher entre o “Céu” e o “Inferno” (fazendo abstração do gosto desagradável desses termos); como ser cuja sexualidade lhe traz, às vezes, problemas (ou trazia) quando opressão, recalques ou enfeitamento de um instinto eram usuais. O pêndulo se desloca para a posição oposta e o homem torna-se, finalmente, o ser que tem muito a aprender e quase muito para desaprender.
Evidentemente a penitência tem a propriedade de ameaçar sufocar-me pelo que o ódio, que só agora reconheço como tal, me fez fazer. O que significa penitência, uma palavra com a qual ligamos açoite, flagelação e sentimento masoquista, dentro da luz dos novos conhecimentos? Penitência é o método pelo qual a alma se purifica de uma injustiça cometida, que turva a substância própria e a impede de tomar parte do divino. A gente é infeliz e gostaria de mudar isto. Não é possível desfazer o acontecido e assim a gente experimenta, de um modo ou de outro, compensar o erro cometido, por algo de bom que não elimina a injustiça, mas de certa forma a compensa. Meu trabalho atual é este. Consiste, como primeiro passo, no reconhecimento e na avaliação da injustiça cometida, isso não é fácil para alguém que, como a grande maioria da humanidade, está acostumado a mentir para si mesmo. Só alguém, como eu, que há 35 anos observo a enorme admiração dos aqui recém-chegados que não encontram o que tinham imaginado, ou melhor, que aqui se encontram na mesma condição em que estavam a sua vida toda, pode avaliar isto. Portanto, se fez alguma coisa, ou muito de errado, para conhecer isso não há necessidade de um “juízo final”. O julgamento é feito já que uma necessidade, de características químicas ou físicas, dirige cada lugar ou repartição sem permitir tergiversação.
Eu me encontro, portanto, no Inferno, mas não longe de uma situação, ou esfera, que pode ser considerado o “plano mais baixo do Céu”. Não deve ser esquecido que os termos “condição interna” e “forma de vida externa” não são rígidos, mas passam um para o outro. Percebi a grande luz, que, além da já mencionada justiça, amor e iluminação espiritual, contém uma série de outros elementos como uma enorme força de atração, que não é só um atrair a si, mas ao mesmo tempo uma verdadeira declaração de amor. Para atender a ela, não só iniciei com a máxima intensidade a mim possível, me aproximar daquele mundo de amor que me atrai. Deste quadro, naturalmente, não pode ser separada a figura de Martha, que me chama assim como nunca antes.
Assim, tento fazer todo necessário para esta transformação interna. Reconhecimento e avaliação da injustiça cometida já aconteceram. São a premissa e o primeiro passo a ser tomado pelo penitente. A este reconhecimento cheguei aos poucos, assim como qualquer modificação no Além é lenta e gradual. Sente-se um vago desagrado até que temos a vontade de analisar o passado sem preconceitos. Como isto aconteceu, tento achar a maneira de compensar as minhas falhas em forma de serviço que devo prestar.
Altruísmo é a característica da alma que acorda. O “estar aí” para os outros, o término daquela vida centrada no eu. Desprendimento próprio é tanto o caminho como a meta, como já afirmou Lao-Tsé.
Ainda não comecei com este “servir”. Ainda tenho que me livrar da pressão daquilo que não foi expresso ou tornado público. Isto agora aconteceu. Eu lhe agradeço, Eva. Cancelo aqui o que disse com relação à não publicação. Eu a deixo agora, para ir a um claustro, ou seminário, onde espero poder progredir rapidamente. Adeus.”
Sigmund Freud
(1865-1939)
Conclusão
Com razão os leitores poderão se questionar sobre a credibilidade a ser dada ao texto.
Para uma maior clareza ao basear sua análise, é imprescindível o estudo da introdução de O Livro dos Espíritos. Reproduzimos um pequeno trecho pertinente à questão.
“Quanto aos espíritos que se enfeitam com nomes respeitáveis, eles se traem pela sua linguagem e suas máximas; aquele que se dissesse Fénelon, por exemplo, e que ofendesse, não fosse senão acidentalmente, o bom senso e a moral, mostraria por isso a fraude.
Se, ao contrário, os pensamentos são puros, sem contradição e constantemente à altura do caráter de Fénelon, não há motivos para duvidar de sua identidade; de outro modo seria preciso supor que um espírito que não prega senão o bem, pode conscientemente, pregar a mentira, e isso sem utilidade.”
Allan Kardec
Enviado por Eliana Thomé, São Paulo